Sempre tenho dificuldade em falar para as pessoas o que faço. Elas não entendem. Uma vez uma amiga me perguntou: o que realmente você faz? Marcas? Marketing? Produto? Hoje na era das startups, na era do canvas e na era do iPhone, meu ego se recusa a responder esse tipo de pergunta. Mas eu sei que mudanças culturais levam tempo para serem elaboradas. Mas o que seria a função do Design hoje? Ele seria um artista? Um pseudo-publicitário? Ou ele seria um diretor de arte frustrado pela Gestalt?
Vou ser simples em meus conceitos: Designer cria objetos, ambientes, roupas e mensagens funcionais e carregadas de símbolos. O Designer de Produto ou Gráfico tem um conhecimento muito profundo de forma, cores, tipografia, elementos de composições para desenvolver desenhos, capa de livros, embalagens e objetos. Ele utiliza das mesmas inspirações do diretor de arte, mas suas ferramentas de criação são mais parecidas com as de gestores, por isso que encontramos designers donos de empresa. Um exemplo de designers gestores são os donos do Airbnb, Gumroad e Pinterest.
A menina dos olhos de qualquer designer gráfico é a marca, já para o designer de produto é o produto, mas e para o diretor de arte ou publicitário? O anúncio é a menina dos olhos do diretor de arte/publicitário. Sim, o diretor de arte não é capaz de ser gestor, pois suas técnicas criativas não são baseadas em métodos e sim em expressões. É como um artista, por isso que ficam ofendidos quando você não gosta do que eles criaram. Realmente o comportamento de ego do diretor de arte seria o mesmo de Dali ou Picasso: “A obra é minha e se você não gostou não vou mudar!” Típica frase de D.A. Como eu sei? Já trilhei esse caminho, sou um ex-diretor de arte/publicitário e me orgulho disse. Me fez crescer e entender a diferença entre essas duas áreas que se complementam.
Mas o artigo é para mostrar que um designer é muito mais um gestor do que um artista, por mais que ele tem “o olho”, ou crie mensagens visuais magníficas. As mais importantes e famosas empresas de tecnologia foram fundadas por designers. Isso prova que os métodos que os designers utilizam para criar ou gerenciar seus projetos são mais gestoras do que artísticas. Por experiências própria e outras que adquiri lendo essas histórias inspiradoras, resumo aqui algumas dicas para quem quer conhecer mais sobre o trabalho de um designer e, é claro, para quem pensa em montar sua própria empresa.
Dica 1 – Contrate ou fique sócio de um designer (Brincadeira, rss)
Use a perspectiva do design para resolver problemas da empresa.
Se você já tem sua própria empresa, ou gerencia uma, coloque em prática as ferramentas de resolução de problemas que o design oferece. São inúmeras, algumas mescladas com técnicas de marketing, outras vindas das áreas da psicologia cognitiva. Importante dizer que o design tem suas próprias técnicas, mas hoje, as técnicas híbridas são as mais legais de se trabalharem. Os fundadores do Airbnb Joe Gebbia e Brian Chesky foram desacreditados por muitos investidores por serem designers. No entanto, essa experiência se mostrou uma das maiores forças do negócio. O conhecimento em design foi fundamental desde a construção das salas de conferências até a estruturação do primeiro dia de um novo empregado no trabalho. Por exemplo, quando um novo designer mudou o ícone de ‘favorito’ de uma estrela para um coração, o envolvimento dos usuários aumentou mais de 20%.
Dica 2 – Colaboratividade, deixe seus funcionários fazerem parte das estratégias.
Essa dica é a que mais gosto e a que mais acredito. Não adianta um funcionário ter um salário altíssimo e não ser visto. Mas o oposto é muito mais impactante. Quando o funcionário possui um salário médio no mercado, mas é visto, se sente colaborador, a sinergia no escritório é outra e a motivação é muito maior do que a promessa de uma salário maior. Na minha empresa, sempre deixo os funcionários participarem das estratégias, mudarem conteúdo, desenvolverem novas formas de aproximação com o cliente. Isso faz com que eles testem suas habilidades e nos ajudam a implementar mudanças. Das empresas de tecnologia o Pinterest é um exemplo de empresa colaborativa, em que um dos seus fundadores, Sahil Lavingia, acredita que os funcionários têm que ter liberdade para terem ideias e colaborar, não sendo castrados. Um outro exemplo é a empresa Gumroad que só possui colaboradores. Ao fundar o Gumroad, mercado online para artistas venderem seus trabalhos, ele optou por uma hierarquia plana. A empresa possui apenas colaboradores, sem títulos, e todos têm comunicação direta com Sahil. A ausência de intermediários evita mal entendidos e mantém todos informados da mesma maneira. A liberdade, quando bem administrada, pode ser uma excelente forma de criar um ambiente propício para a criatividade e, consequentemente, soluções não convencionais para problemas complexos.
Dica 3 – Fazer do processo do seu produto ou serviço uma estratégia.
Muitas consumidores hoje se interessam em saber como que é o processo da sua favorita marca ou empresa. Mesmo quando eles vão experimentar algo novo, eles procuram entender como é o processo que a empresa faz até entregar o serviço ou o produto que eles estão comprando. É o caso de uma mini fábrica de sabonetes e shampoos artesanais inaugurada o mês passado no Farmers Market da Fair Fax in Los Angeles. A loja expões todo o processo de fabricação e você pode escolher a cor e a fragrância do seu sabonete ou shampoo e esperar e vê-lo ser fabricado. É muito bacana pois o cliente vendo o processo ele fica assegurado que não existe nada a mais que possa interferir no desenvolvimento do produto que ele está adquirindo. Os rótulos para os shampoos, tags e papeis para os sabonetes são muito bem elaborados e seguem um estilo nouveau. Em 2015, um artigo publicado pelo Sebrae sobre o designer como gestor, também ressalta esse processo e apresenta o exemplo do Michael Preysman.
Segundo o site Sebrae Design de Minas, o designer de moda Michael Preysman nunca entendeu porque na moda o markup – lucro em cima dos produtos – é tão alto. Buscando uma resposta para o seu questionamento, o designer foi para a Espanha para ver onde a carteira da sua marca favorita era produzida. A partir desta experiência, o designer desenvolveu a Everlane, uma marca totalmente transparente. O cliente tem acesso a toda a estrutura de produção. Desde o transporte até a matéria-prima, o consumidor tem conhecimento de como o produto foi concebido, o porque de cada custo e inclusive – não se choque – ao markup, que nunca é mais que o dobro do valor de custo. Esse tipo de estratégia vem se mostrando uma tendência de mercado e cada vez mais empresas estão adotando a política. Além de criar um vínculo de confiança com os clientes, a empresa que pratica a transparência está incentivando um política de mercado mais justa.
Dica 4 – Faça o design tão importante quanto seu próprio negócio.
O exemplo que dou aqui é do ex-CEO da Gap, Mickey Drexler quando ele revigorou a marca J. Crew, em 2003, apostando no departamento de design e o revigorando agregando valor. Sua visão e estratégia deram tão certo que hoje a marca J. Crew possui coleções e um estilo próprio e sua maior força está em seus produtos e cortes da coleção.
Não importa se o Design utiliza os 12 P’s e o marketing os 7 P’s, ou que o designer utilizar os 4 C’s e o Marketing utiliza o diretor de arte. O que importa, no fundo, é fazer com que a profissão seja reconhecida como uma área cognitiva e não artística. Por vários anos, vejo alunos, amigos e outros profissionais se orgulharem por essa informalidade de identidade, de ação, e até de posicionamento. Sempre me pergunto, se a hora de um advogado é X, qual que seria a hora de um Designer? Qual que seria a hora de um artista? Segundo um amigo nova yorkino, gerente de uma galeria, o artista não custa por hora e sim por obra. Finalizo o artigo dizendo que: não fazemos obra, pois trabalhamos por hora, resolvendo pequenos problemas com nosso conhecimento de técnicas perceptivas e visuais.
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